
Miguel Gaspar aprendeu a ganhar
iguel Gaspar tornou-se no terceiro português e no segundo consecutivo a vencer um torneio do Portugal Pro Golf Tour (PPGT) de 2018/2019.
O golfista de 26 anos conquistou o primeiro título internacional da sua carreira, iniciada em 2013, no 3.º Palmares Classic, de 10 mil euros em prémios monetários.
Miguel Gaspar teve putt para birdie no último buraco da prova para resolver o assunto, mas acabaria por só impor-se após a conclusão do segundo buraco de play-off, no qual derrotou o escocês Craig Lawrie.
Os dois jogadores tinham terminado os 36 buracos regulamentares empatados com 137 pancadas, 7 abaixo do Par dos percursos Praia e Alvor do Onyria Palmares Beach & Golf Resort, em Lagos, o português com voltas de 67 e 70, e o escocês com rondas de 69 e 68.
Outro português, Tomás Melo Gouveia, esteve na luta pelo título até ao penúltimo buraco, mas sofreu aí (no buraco 17) 1 duplo-bogey que o atirou para o 3.º lugar, com cartões de 71 e 68, para um agregado de 5 abaixo do Par, a 2 de distância de entrar no play-off.
Foi o segundo 3.º lugar consecutivo de Tomás Melo Gouveia, que, dias antes obtivera a mesma classificação, com o resultado de 7 abaixo do Par, no 2.º Penina Classic, conquistado por Tomás Bessa.
O outro título português na presente temporada deste circuito satélite sancionado pela PGA de Portugal, pela Federação Portuguesa de Golfe e pelo britânico Jamega Pro Golf Tour foi Ricardo Santos, logo no primeiro torneio, em novembro, no 1.º Palmares Classic.
Os jogadores portugueses têm-nos habituado a vencer torneios internacionais nestes circuitos que no outono e no inverno se disputam em Portugal. Desde os tempos do Algarve Winter Tour, ao Algarve Pro Golf Tour e ao Portugal Pro Golf Tour, mas a novidade é o despontar das chamadas “segundas linhas” do golfe profissional português.
Com efeito, não pode causar surpresa ver craques como Pedro Figueiredo, Ricardo Santos, Tiago Cruz, Ricardo Melo Gouveia e Hugo Santos imporem-se com frequência nestes circuitos satélites.
Os sinais de evolução vêm agora dos outros portugueses que também têm triunfado e já começam a ser alguns: Miguel Gaspar neste 3.º Palmares Classic (PPGT), Tomás Bessa no 2.º Penina Classic (PPGT), Vítor Lopes (ainda como amador) no Álamos Classic em fevereiro de 2018 (do PPGT), Tiago Rodrigues em abril de 2017 no 1.º Guardian Bom Sucesso Classic (PPGT), João Ramos no 2.º Castro Marim Classic de 2016 em março (APGT) e Nelson Cavalheiro no Gramacho em fevereiro 2013 (AWT).
À exceção do treinador Nelson Cavalheiro, todos os outros são jovens que se apoderara dos seus primeiros títulos internacionais em circuitos realizados em Portugal, que servem exatamente como rampa de lançamento para carreiras melhores em circuitos superiores. Os objetivos da PGA de Portugal estão a ser cumpridos aos poucos.
«É especial porque é a minha primeira vitória e já jogo este circuito desde o início, há quatro ou cinco anos. Não só nunca tinha ganho como nunca tinha estado tão perto de ganhar. Vejo como o circuito tem vindo a crescer e o meu nível de jogo também», disse Miguel Gaspar à Tee Times Golf, em exclusivo para Record.
O jogador que desde a semana passada é agenciado pela GreatGolf – tal como Tiago Cruz, Tomás Bessa e Tiago Rodrigues – já tinha feito um top-10 poucos dias antes no Penina (8.º com -3), sente-se em forma e não há segredo que não seja o trabalho.
«Tenho treinado todos os dias com o Sebastião Gil. Não parei no Natal, só estive dois dias sem treinar. Isto para mim é que é uma pré-temporada. Estou a tentar preparar-me da melhor maneira para os torneios no Egito, para o Alps Tour, daqui a pouco mais de um mês, e aí sim, estar ainda melhor», elucidou.
A sua estratégia é semelhante à de outros portugueses que usam o PPGT como etapa de preparação para depois irem competir nas variadas terceiras divisões europeias, sendo que a maioria prefere ou o Alps Tour ou o Pro Golf Tour.
«Este ano vou jogar o Alps Tour. Tenho uma categoria full porque no ano passado todos os jogadores que tinham uma categoria abaixo da minha jogaram todos os torneios, portanto, posso jogar os torneios todos e será aí que irei focar-me mais. Vou tentar conciliar com alguns convites para o Challenge Tour (segunda divisão europeia) mas só em semanas em que não haja torneios do Alps Tour», explicou o profissional da Chili Boy.
A jogar a este nível, Miguel Gaspar pode ter aspirações a um dos cinco lugares que no final da época de 2019 estarão reservados ao top-5 do Alps Tour para subir ao Challenge Tour em 2020.
Afinal, no ano passado, o jogador de Belas que há um ano treina na Quinta da Ria (no Algarve) sagrou-se vice-campeão de um dos torneios do Alps Tour, o Open da Andaluzia daquele circuito, com 48 mil euros de prémios monetários, em Huelva.
Esse 2.º lugar isolado em La Monacilla, entre 131 participantes, rendeu-lhe 4.728 euros e deveria ter então saltado para o 12.º do ranking, mas não se tinha feito membro dos Alps Tour, nem surgiu na tabela. Em 2019 tomou uma opção diferente e já será membro do Alps Tour.
A evolução de Miguel Gaspar tem sido uma constante nos últimos 12 ou 14 meses e pouco depois daquele 2.º lugar na Andaluzia venceu o seu primeiro torneio como profissional, na 37.ª edição do Open Pro-Am da Ilha Terceira.
É certo que não foi um título internacional, mas numa prova do calendário do PGA Portugal Tour. De qualquer forma, oferecia 7.100 euros em prémios, dos quais Miguel Gaspar arrecadou o principal de 1.300 euros.
Seis meses depois já triunfou pela primeira vez num circuito internacional e logo com um apreciável nível de jogo, pois no seu jogo de picos muito elevados mas também ressacas acentuadas não era normal fazer 36 buracos perdendo apenas 1 pancada no caminho!
O trabalho encetado com o ex-selecionador nacional, Sebastião Gil, em março de 2017, e a consequente mudança de residência da zona de Belas para o Algarve estão a dar os seus frutos, com dois top-10 seguidos, um dos quais uma vitória que lhe valeu dois mil euros.
«Joguei bem no Penina, mas neste torneio, no primeiro dia, joguei realmente muito bem. No segundo dia joguei bem mas não meti a bola tão perto da bandeira. Em contrapartida não fiz bogeys. Foi um torneio bom e sinto-me a jogar razoavelmente bem. No único bogey que sofri tive de “dropar” porque fiquei com a bola dentro de uma moita e mesmo assim ainda tive putt de 4 metros para Par. No segundo dia tentei ao máximo evitar erros e consegui, embora sem ter tantas hipóteses de birdie. Em contrapartida quase nunca tive o Par em risco, e só por duas vezes necessitei de um putt bom para Par, nos dois únicos greens que falhei no dia todo».
Isto são declarações de alguém que se sente a controlar o seu jogo, consciente do que está a fazer em campo. Aliás, essa lucidez valeu-lhe o título pela forma como também controlou a concorrência. Primeiro quando teve de “patar” para ir a play-off” e depois pela forma como geriu o segundo buraco de play-off.
«Eu estava a jogar no último dia com o Craig Lawrie e sabia que havia mais alguém -7 como eu, que era o Tomás Melo Gouveia, quando faltavam dois buracos. O Craig estava com -5, mas depois ele fez um grande birdie no 17 e outro no 18 para empatar comigo. Estávamos os dois no green do 18, eu “patei” primeiro para birdie e falhei, ele meteu e eu ainda tive de meter um putt de um metro e pouco para ir a play-off. (Entretanto, Tomás Melo Gouveia sofreu 1 duplo bogey no 17).
«O play-off foi no buraco 18, fizemos os dois o Par, eu quase conseguia meter o putt depois de ele falhar o birdie, foi por pouco que o meu não entrou. Depois fomos para o buraco 10 e o Craig falhou o green no lado errado, que o impedia logo de fazer o Par. Eu dei um bom shot ao green, fiquei com um putt de metro e meio para birdie. Fui um bocadinho agressivo demais e passei o buraco em cerca de um metro e meio mas depois consegui meter o putt para ganhar».
Com os bons resultados estão a surgir alguns patrocínios. Há um ano era só apoiado pela “Chili Boy”. Entretanto, com a entrada para a GreatGolf outras oportunidades estão a surgir: «O Diogo, o meu novo agente, já conseguiu arranjar-me dois patrocínios que em breve serão oficiais».
Entretanto, sabemos que um deles é a KW Business. Também a Bunker Mentality e a Duca Del Cosma Iberia estão ligadas ao jogador que é profissional desde 2013, mas que só desde meados de 2018 está claramente a cumprir todo o potencial que lhe era reconhecido nos seus tempos de grande golfista amador.
O 3.º Palmares Classic contou com 47 jogadores, dos quais 12 portugueses. As classificações e resultados dos portugueses foram as/os seguintes, com destaque para o top-10 de António Sobrinho:
1.º Miguel Gaspar, 137 (67+70), -7 (ganhou no 2.º buraco de play-off), €2.000,00
3.º (empatado) Tomás Melo Gouveia, 139 (71+68), -5, €1.150,00
6.º (empatado) António Sobrinho, 141 (69+72), -3, €525,00
13.º (empatado) Hugo Santos, 145 (73+72), +1, €243,75
13.º (empatado) Tomás Bessa, 145 (72+73), +1, €243,75
13.º (empatado) Vítor Lopes, 145 (74+71), +1, €243,75
18.º (empatado) Tiago Cruz, 146 (77+69), +2
22.º (empatado) João Ramos, 148 (73+75), +4
29.º Alexandre Abreu, 152 (74+78), +8
36.º (empatado) Francisco Oliveira, 158 (80+78), +14
40.º (empatado) Pedro Almeida, 163 (75+88), +19
44.º Daniel Germano, 170 (84+86), +26
45.º Mickael Carvalho, 171 (82+89), +27
Por Hugo Ribeiro
Lisboa, 13 de janeiro de 2019