Afinal Gouveia já garantira o European Tour em 2019
Ricardo Melo Gouveia já sabia, afinal, o que todos os outros desconheciam, ou seja, que tinha garantido a manutenção no European Tour em 2019 quando foi disputar o Andalucia Valderrama Masters, que terminou no último Domingo.
«Neste último torneio não tinha a pressão de garantir o cartão, porque tinha-o assegurado matematicamente na semana anterior e, por isso, estava um bocado mais descontraído», disse o português de 27 anos à Tee Times Golf, depois de sair de Espanha no 16.º lugar (empatado), a sua terceira melhor classificação da temporada na primeira divisão do golfe profissional europeu.
Há uma semana escrevemos, que um top-30 ou 40 no Masters de Valderrama seria suficiente para Ricardo Melo Gouveia manter-se no top-116 da Corrida para o Dubai e, consequentemente, prosseguir no European Tour em 2019.
O próprio irmão mais novo de Ricardo, Tomás Melo Gouveia, que tinha sido o seu caddie uma semana antes em Inglaterra, não estava tão seguro de já estar tudo definido, como nos explicou na segunda-feira.
«Não consegui deixar de seguir o meu irmão no torneio em Valderrama. Era para ter ido lá a semana toda mas não consegui. Sabia que era uma semana muito importante para ele e quis seguir de perto mesmo estando longe. Do meu lado, estava tranquilo e ansiedade não havia nenhuma. Estava confiante de que ele iria fazer uma boa semana. É um campo de que ele gosta muito e onde normalmente apresenta bons resultados. Isso só me deu mais motivação e vontade de fazer um grande resultado no meu torneio para também lhe dar uma alegria», disse-nos o “caçula” da família que, ao mesmo tempo, disputou e ganhou o Pro-Am da Final do Circuito PT Empresas da PGA de Portugal, no Penina Hotel & Golf Resort, no Algarve.
Quem esteve no campo de Sotogrande, em Cádiz, a puxar o saco de Ricardo foi o outro Tomás Melo Gouveia, o pai talismã, que tem estado presente em alguns dos grandes êxitos dos seus filhos, designadamente no 7.º lugar de Ricardo no Portugal Masters, a sua melhor classificação da época, que marcou o início da recuperação sensacional que fez neste final de época.
«Sim, mais uma vez, o Portugal Masters foi uma semana muito importante para dar uma reviravolta na minha época. Senti o jogo bastante bem e também muito confiante nessa semana e o Portugal Masters deu-me bastante esperança», admitiu o jogador do Team Portugal, que referiu «mais uma vez» porque o mesmo tinha-se passado em 2017. No ano passado, também chegou ao Algarve numa situação muito difícil e o 5.º lugar que partilhou então com Filipe Lima foi o início da recuperação que lhe deu o cartão para 2018.
«Os últimos meses foram de muita tensão e de muito nervosismo e espero nunca mais ter de passar por esta situação. A experiência do ano passado ajudou-me este ano. Sabia que tinha sido capaz de ultrapassar uma fase difícil como foi a de garantir o cartão em 2017 e isso ajudou-me bastante para este ano», frisou.
O Masters da Andaluzia distribuiu dois milhões de euros em prémios monetários – o mesmo montante do Portugal Masters – e Ricardo Melo Gouveia integrou um grupo de seis jogadores que partilharam o 16.º lugar, com 212 pancadas, 1 abaixo do Par, no caso do português residente em Inglaterra com voltas de 72, 71 e 69, ou seja, sempre a melhorar. Aliás, esses resultados crescentes refletiram-se na classificação, pois começou por andar na 40.ª posição e saltou depois para a 25.ª, antes da 16.ª definitiva que lhe rendeu um prémio de 25.500 euros.
«Mais uma vez, não estive ao meu melhor nível em termos de jogo, mas consegui gerir muito bem o jogo e aproveitar ao máximo. Foi uma semana muito difícil em termos de paragens e recomeços por causa do mau tempo», confessou o profissional da Quinta do Lago.
Com efeito, o torneio apoiado pela Fundação de Sergio Garcia foi fustigado pela intempérie e por duas vezes foi necessário adiar a conclusão de uma volta para o dia seguinte. Daí que após cinco dias de prova só tenha sido possível concluir três voltas, reduzindo-se a competição de 72 para 54 buracos.
Ricardo Melo Gouveia gosta de jogar no campo que se tornou famoso por ter sido o primeiro palco da Ryder Cup na Europa Continental e isso ajudou-o a superar melhor as difíceis condições meteorológicas. Aliás, tinha acabado de passar a profissional em 2014 quando venceu em Valderrama a terceira edição do Heineken Pro-Am, tendo então participado nessa prova graças a um convite de Nuno de Brito e Cunha, o nobre português (com o título de Visconde de Pereira Machado) que preside ao Real Club Valderrama.
«Valderrama é um campo bastante exigente. Tem de estar-se bem em todos os aspetos de jogo. O campo estava, mais uma vez, em excelentes condições, com um rough não muito alto, mas o suficiente, e os greens muito rápidos», analisou o jogador do ACP Golfe, que subiu na Corrida para o Dubai de 104.º para 101.º.
Será nessa posição do ranking europeu que irá encerrar a sua participação do European Tour de 2018. Melhor do que o 115.º posto de 2017 e pior do que o 54.º lugar de 2016, que ainda é o recorde da melhor classificação de sempre de um português no final de uma temporada do European Tour.
Ricardo Melo Gouveia irá disputar uma quarta temporada seguida no European Tour em 2019, igualando os recordes nacionais de Ricardo Santos (entre 2012 e 2015) e Filipe Lima (entre 2005 e 2008), que viveram anteriormente séries semelhantes.
Em contrapartida, o jogador da Srixon não irá jogar os últimos torneios do ano, a Final Series do European Tour (embora já não tenha este nome oficial), com os eventos que encerram a Série Rolex: Turkish Airlines Open na Turquia, Nedbank Golf Challenge na África do Sul e DP World Tour Championship no Dubai. Em 2016 tornou-se no primeiro e único português a apurar-se para o “Mundial” do Dubai. Em 2018 já foi muito positivo ter conseguido fechar a época no top-116. Antes da Final Series ainda existe o HSBC Champions dos World Golf Championships em Xangai, mas seria necessário estar no top-50 do ranking mundial para entrar.
«O European Tour acaba cedo para mim, mas em nota alta, com algumas boas exibições nos últimos quatro torneios. Agradeço à minha equipa, aos meus patrocinadores, à minha família, à minha mulher e a todos os que ajudaram-me durante o ano no campo de golfe. O meu próximo torneio será em Hong Kong daqui a um mês», escreveu Ricardo Melo Gouveia, em inglês, na sua conta profissional no Facebook.
O Honma Hong Kong Open disputa-se de 22 a 25 de novembro e abre oficialmente a época de 2019 do European Tour e logo depois, de 29 de novembro a 2 de dezembro, o jogador da Galvin Green participará ainda no Australian PGA Championship.
Essa calendarização irá impedi-lo de entrar nos dois Majors da PGA de Portugal que costumam fechar o ano civil: o Solverde Campeonato Nacional PGA, de 15 a 17 de novembro, no Oporto Golf Club, e a Taça Manuel Agrellos, em data a designar mas normalmente em dezembro.
«Vou começar já a jogar este ano a próxima época, nos torneios de Hong Kong e da Austrália. Não jogo o Campeonato Nacional porque compito em Hong Kong na semana a seguir e tenho de viajar nesse fim de semana do Campeonato. Também vou aproveitar essas semanas para estar com o meu treinador. A Taça Manuel Agrellos será na altura em que vou tirar férias com a Carolina, porque ainda não tivemos oportunidade este ano», explicou o único português membro do European Tour.
Ricardo Melo Gouveia poderia ainda jogar a Taça do Mundo (ISPS Handa Melbourne World Cup of Golf), de 21 a 25 de novembro, mas para isso precisaria de ser um dos dois portugueses melhor classificados no ranking mundial. Ora este ano perdeu o estatuto de n.º1 nacional. No último mês melhorou bastante a sua cotação, pois estava fora do top-600 e esta semana ascendeu ao 423.º posto. Mesmo assim, longe do 342.º lugar em que iniciou 2018. À sua frente tem agora Pedro Figueiredo (337.º) e Filipe Lima (375.º) e poderão ser eles a optar por representar Portugal no “Mundial” em Melbourne.
O balanço final do European Tour de 2018 tem de ser positivo para Ricardo Melo Gouveia, apesar das dificuldades em manter o cartão para 2019 e não obstante a separação com o seu caddie Nick Mumford. Conseguiu dois top-10 (7.º no Portugal Masters em setembro e 9.º no Sky Sports British Masters em outubro), para além de três eventos em que foi 16.º classificado: AfrAsia Bank Mauritius Open ainda em dezembro do ano passado, Hero Indian Open em março e agora o Andalucia Valderrama Masters da semana passada. E o português embolsou 389.485 euros em 29 torneios disputados!
O Masters da Andaluzia foi ganho nas três últimas edições (2011, 2017 e 2018) por Sergio Garcia, o espanhol que funciona como embaixador da prova e que no nosso Portugal Masters empatou com Melo Gouveia no 7.º posto.
No entanto, para o campeão do Masters de 2017 este triunfo de 2018 – averbado com um total de 201 (68+64+69), -12, com 1 de vantagem sobre o irlandês Shane Lowry (69+70+66) – teve um sabor muito especial, pois foi o primeiro depois de ter sido pai.
«A paternidade muda a vida para melhor e estou a adorar todos os minutos. Estou muito feliz de ter tido aqui comigo a Angela e a Azalea. Foi bonito ter ganho isto para elas». Será que, agora como pai, poderemos continuar a chamar o herói europeu da Ryder Cup pela sua alcunha de “El Niño”?
Texto: Hugo Ribeiro
Lisboa, 23 de outubro de 2018