Santos de sonho às portas do top-10 – Melhor volta do torneio em Maiorca com 6 abaixo do Par
Terá sido a visita da mulher Rita, vinda de Portugal com os amigos Miguel e Alves Caetano? Terá ajudado o apoio do cunhado Pedro, que reside há cinco anos em Maiorca? Poderá ter-se sentido melhor com o vento menos forte que soprou neste Sábado? Ou será que após duas voltas de treino, um dia de Pro-Am e duas rondas de competição a sério, Ricardo Santos começou a perceber como contornar o enigmático traçado do Club de Golf Alcanada, que tem feito em água à elite dos melhores 45 jogadores do Challenge Tour?
O certo é que hoje Ricardo Santos mostrou porque razão é um dos melhores jogadores da segunda divisão do golfe europeu em 2019, com uma vitória no Swiss Challenge e mais outros dois top-3, fazendo-o chegar à Grande Final do Challenge Tour no 8.º lugar da Corrida para Maiorca e com o cartão assegurado para o European Tour em 2020.
As voltas de 75 e 73 que tinham-no atirado para fora do top-30 da classificação nos dois primeiros dias deste torneio, de 420 mil euros em prémios monetários, não faziam justiça à qualidade que o algarvio é capaz de exibir nos campos de todo Mundo.
Um dos voluntários que acompanhou-o em duas das três voltas, empunhando a tabuleta com os resultados, falava-nos do agrado que sentia em ver jogar ao vivo o mesmo Ricardo Santos que assistira tantas vezes há uns anos em lugares de destaque em transmissões televisivas do European Tour.
E ao terceiro dia fez-se luz. Com uma volta de 65 pancadas, 6 abaixo do Par do sinuoso desenho de Robert Trent Jones jnr., Ricardo Santos carimbou não só o melhor resultado do dia, como igualou o melhor cartão de toda a semana que tinha sido conseguido pelo inglês Laurie Canter na sexta-feira.
“Estou obviamente contente e orgulhoso porque fazer 6 abaixo neste campo é bastante motivador. (…) Foi uma volta excecional para subir bastantes posições na tabela”, disse Ricardo Santos à Tee Times Golf (teetimes.pt).
Com efeito, depois de partir num modesto 37.º lugar, o campeão nacional de 2011 e 2016 saltou para o grupo dos 11.º classificados, com um total de 213 pancadas, a Par do campo, empatado com outros quatro jogadores.
“Hoje, quando comecei, o meu foco foi não cometer erros e, quando não me sentisse bem, jogar pelo seguro, sem tentar grandes milagres”, explicou o português de 37 anos.
A estratégia deu frutos. O front nine do campo é “mais exigente” na pancada de saída e no ataque ao green e nos dois dias anteriores Santos tinha chegado ao buraco 10 com +4 e +2. Desta feita, dobrou os primeiros nove buracos com -3, com birdies no 1, 6 e 9. Para mais, nos buracos 7, 8 e 9 tinha conseguido sair de situações eventualmente comprometedoras.
A confiança de ter passado o mais difícil com distinção soltou-o para a grande exibição no back nine, com mais birdies nos buracos 11, 13, 15 e 18, nada manchados pelo bogey no 12, curiosamente um buraco onde fizera sempre birdie nos dias anteriores.
“Joguei praticamente igual a ontem, mas a diferença foi que concretizei putts. Hoje aproveitei praticamente todas as oportunidades que tive. Na realidade nem tive de fazer putts muito longos porque tive muitos shots perto dos buracos. E em todos os greens que falhei consegui fazer up & down. O único putt que meti para lá dos 2 ou 3 metros foi no 13, que teria aí uns 6 metros. E houve alguns putts dados, no 18 quase fazia eagle e no 9 fiquei a 1 metro. O único bogey foi por ter falhado o drive à esquerda e tive a infelicidade de ficar encostado a uma árvore, sem possibilidade de backswing e follow through”, explicou com mais detalhe.
Estando a 6 pancadas dos líderes, quando falta uma volta para o fim da Grande Final, Ricardo Santos já não pensa nem no título nem no n.º1 da Corrida para Maiorca, mas sabe que não é impossível terminar o torneio entre os dez primeiros, quiçá entre os cinco primeiros, e também pode melhorar o 8.º lugar no ranking do Challenge Tour que ocupava antes de viajar para Espanha.
Até porque o último dia é imprevisível. As indicações meteorológicas são de muita chuva e de ventos que poderão aproximar-se dos 50 Km/h. Alguns membros da organização admitem em surdina (mas recusando qualquer declaração oficial) que possa não haver uma quarta ronda e que o torneio seja reduzido a 54 buracos.
Filipe Lima, um dos mais experientes jogadores desta Grande Final, levanta a hipótese de um outro cenário: «O problema é que se jogarmos muito buracos poderemos ter de concluir tudo na segunda-feira e isso é que é mais chato».
O mau tempo não é mal-encarado pelos dois portugueses. “Pode ser uma mais-valia para mim – sublinha Santos – porque se estiver bom tempo é mais difícil subir na classificação. É preciso fazer um resultado como o de hoje para subir muito. Com mau tempo, é aquele jogo da paciência, de fazer o máximo de pares possíveis e de cometer poucos erros. Nesses dias é assim que se sobe na tabela e é o que irei tentar fazer”.
“Não vou ficar chateado com o mau tempo – corroborou Lima – e como o pessoal sabe eu gosto disso. É uma oportunidade a mais para eu fazer um muito bom resultado e ainda agarrar um resultado como deve ser”.
O português residente em França sempre gostou de jogar com vento. O algarvio não era bem assim na sua juventude, mas é preciso perceber que são dos jogadores mais experientes e de melhor palmarés entre este top-45 do Challenge Tour. Aliás, este ano, Santos venceu na Suíça e Lima na Finlândia. Ao contrário de outros mais jovens, não entram em pânico com situações mais desafiantes.
Por outro lado, ambos irão jogar a última volta descontraídos. Santos porque tem o cartão do European Tour assegurado para 2020. Lima porque sabe que já não será possível o top-2 na classificação que iria permitir-lhe regressar ao European Tour.
Por quatro vezes o português de quase 38 anos conseguiu subir à primeira divisão europeia vindo do Challenge Tour, mas não haverá uma quinta vez em 2019.
Embora hoje tenha obtido o seu melhor resultado da semana, de 69 pancadas, 2 abaixo do Par, e apesar de ter subido de 41.º para 38.º com um total de 219 (+6), está a 12 pancadas dos líderes!
Por isso, estando mais descontraído, a jogar melhor e finalmente a “patar” decentemente, poderá arrancar uma bela exibição. E para ele o último dia não deixa de ser importante, porque há muito dinheiro em jogo e a sua carreira é apenas financiada com os prémios monetários que aufere. Jogando sem pressão, poderá surpreender a concorrência.
“Hoje ‘drivei’ muito bem to tee mas os ferros estiveram bastante mal, mas meti alguns putts, a Senhora ouviu-me, e por isso arranquei um resultado abaixo do Par, o que é muito bom aqui. É verdade que hoje havia menos vento, estava um pouco mais fácil, mas estou contente e mais ainda por ter tido boas sensações nos greens e isso é a maior alegria que poso ter”, declarou Lima, que cumpriu os primeiros nove buracos a Par e depois fez birdies nos buracos 10, 11 e 15, perdendo 1 pancada no 13.
O campeão nacional de 2017 já sabe que para a semana terá de ir jogar a Final da Escola de Qualificação, a sua última hipótese de subir ao European Tour.
Mas voltando à Grande Final do Challenge Tour, para esta terceira volta a direção do torneio decidiu colocar o campo um pouco mais fácil (com greens nem tão rápidos como no primeiro dia, nem tão lentos como no segundo) e o vento também soprou um pouco menos nos buracos menos montanhosos.
Francesco Laporta, o líder das duas primeiras voltas, foi dos raros a considerar que as condições de jogo estavam “mais difíceis do que nos dias anteriores devido ao posicionamento de algumas bandeiras”.
O italiano manteve o comando, mas agora partilha-o com o alemão Sebastian Heisele, com 207 pancadas, 6 abaixo do Par.
Laporta, recente campeão do Open de Hainan na China fez uma terceira volta de 70 (-1). Heisele, o campeão do Open da Bretanha, fez a sua melhor volta da prova de 67 (-4).
Hoje houve 20 jogadores a baterem o Par do campo e todo o top-10 do torneio está agora em “números vermelhos”. Uma melhoria substancial, pois no primeiro dia só sete jogadores tinham jogado abaixo do Par, passando para 11 no segundo dia.
E se ontem só seis jogadores estavam abaixo do Par no agregado dos 36 buracos, hoje já temos todo o top-10 a superar o campo.
Quanto aos jogadores que tenham cometido a proeza de entregar todos os dias cartões abaixo do Par, só mesmo dois: o colíder Francesco Laporta (68+69+70) e o inglês Matthew Jordan (70+70+69), que ocupa a 3.ª posição, empatado com o seu compatriota Jack Senior (70+73+66) e o francês Robin Sciot-Siegrist (71+68+70).
A última volta começa mais cedo do habitual, logo às 8h00, e Filipe Lima sai do terceiro grupo, às 08h22, com o alemão Nicolai von Dellingshausen e o norte-irlandês Cormac Sharvin.
Ricardo Santos arranca o seu assalto ao top-10 do torneio às 10h01, ao lado do polaco Adrian Meronk, o campeão do Open de Portugal @ Morgado Golf Resort, e do holandês Darius van Driel, o vencedor do prestigiado Rolex Trophy. Será, por isso, um trio de jogadores que elevaram troféus na presente temporada.
Autor: Hugo Ribeiro / Tee Times Golf
Lisbo, 9 de novembro de 2019