Ricardo Melo Gouveia cansado mas bem premiado
Ricardo Melo Gouveia sente-se desgastado física e mentalmente, depois de todas as emoções de um carregado final de época de 2018 e das pressões e preocupações para manter-se no European Tour.
Teve pouco mais de um mês de descanso e iniciou logo, ainda em novembro, a temporada de 2019 da primeira divisão europeia. E depois de dois torneios consecutivos com viagens intercontinentais, julga ter chegado a hora de parar e descansar.
No entanto, poderá gozar devidamente a quadra natalícia em família, sabendo que efetuou o seu melhor início de temporada de sempre no European Tour.
«Nestas duas últimas semanas senti o pesar duma época longa de competições, de viagens, do stress de ter de assegurar o cartão. Senti-me cansado fisicamente e mentalmente. Daí também (sofrer) os triplos e duplos-bogeys que surgiram. Vai ser bom tirar umas semanas de férias até ao Natal para recarregar baterias a todos os níveis», disse o atleta olímpico à Tee Times Golf, em exclusivo para Record.
Os dois torneios a que se refere Ricardo Melo Gouveia foram o Honma Hong Kong Open, no qual foi 20.º classificado, com 5 pancadas abaixo do Par; e o Australian PGA Championship, que terminou no Domingo no grupo dos 40.º classificados, com 288 pancadas, a Par do RACV Royal Pines Resort, em Gold Coast.
Se em Hong Kong começou mal, no 107.º lugar, e acabou bem, no 20.º posto, passando o cut à vontade, no Estado australiano do Queensland deu-se o inverso, pois arrancou de forma excelente, no grupo dos 10.º classificados, após uma primeira volta de 69.º, mas depois viu-se aflito para passar à queima o cut em 41.º, para concluir a prova num razoável 40.º lugar, entre 156 jogadores.
«Mais uma vez, não me senti bem com o meu jogo esta semana. Senti alguma dificuldade no controlo da distância e o meu shot ao green esteve fraco, deixando a bola bastante longe para birdie», especificou.
É preciso também dizer que foi a primeira vez que jogou naquele campo australiano, enquanto, por exemplo, na semana anterior, já tinha jogado antes no Hong Kong Golf Club.
«O campo era relativamente aberto sem muito rough, mas com greens bastante ondulados e difíceis. Esteve sempre bastante calor durante a semana toda, com algum vento a levantar-se a meio da manhã», acrescentou.
Estas exibições em jeito de montanha russa devem-se exatamente à tal saturação e necessidade de férias e, como o próprio jogador do Team Portugal explicou, os buracos em que perde muitas pancadas – nada habituais – são um reflexo disso.
Na China foram 1 triplo-bogey e 2 duplos-bogeys. Agora na Austrália 2 duplos-bogey e o primeiro, no buraco 13 da segunda volta, por pouco não lhe custou a eliminação da prova. Precisou de um providencial birdie no buraco 15 para apurar-se ‘in extremis’ para os dois últimos dias. Uma vez mais, a sua reconhecida combatividade veio ao de cima nos maus momentos que atravessou.
O seu jogo poderá estar mais irregular, mas também se nota uma constante agressividade. Em Hong Kong carimbou 19 birdies, enquanto neste Major do PGA Tour of Australasia foram mais 14 birdies, com destaque para os 5 no último dia.
«Isso é um sinal sempre muito positivo. Agora é só eliminar os erros maiores para conseguir competir mais regularmente com os vencedores», sublinhou o português de 27 anos, que reside em Inglaterra, mas passa muito tempo em casa dos seus pais, no Algarve, tendo contado nestes dois últimos torneios com a ajuda fundamental do seu pai, Tomás, como caddie.
Dois cuts passados em dois torneios disputados é, de certa forma, o melhor início de época de Ricardo Melo Gouveia quando está a realizar a sua quarta temporada consecutiva no European Tour. Sobretudo se pensarmos em termos de calendário.
É certo que o profissional da Quinta do Lago desceu esta semana do 18.º para o 28.º lugar da Corrida para o Dubai do European Tour e é previsível que possa sair do top-30 e até mesmo do top-40 quando regressar à competição em janeiro de 2019, no Abu Dhabi HSBC Championship, a contar para a Série Rolex, pela simples razão de optar por não jogar nas duas próximas semanas na África do Sul.
Em certa medida, é uma pena, porque se é verdade que não tem boas memórias do Open da África do Sul, onde falhou o cut no ano passado (embora num campo diferente deste ano), não é menos certo que no Alfred Dunhill Championship guarda recordações excelentes do seu 18.º posto (-5) no mesmo campo de Leopard Creek, em novembro de 2015, referente à temporada de 2016. Contudo, a decisão de ausentar-se da África do Sul deverá ser correta, dada a necessidade de recuperar as forças.
Mas se analisarmos a sua prestação até ao momento, em termos de calendário e não de Corrida para o Dubai (ranking da primeira divisão europeia), verificaremos que Ricardo Melo Gouveia reentrará no European Tour em janeiro de 2019 com prémios monetários de 23.729 euros (40,7 pontos para o ranking) em apenas dois eventos, 5.206 dos quais embolsados neste Australian PGA Championship.
Este “mealheiro” de 23.729 euros supera em muito os 16.766 euros que apresentava em janeiro de 2016, a sua melhor época de sempre, e os 16.501 euros de 2018. Em 2017 só começou a temporada em janeiro, portanto com 0 euros no bolso.
Isto significa que embora em 2019 haja uma forma diferente de calcular o ranking e já não se faça uma equivalência direta entre os prémios monetários e os pontos, é inequívoco que o jogador do ACP Golfe possui uma folga superior aos anos anteriores. Isso poderá libertá-lo psicologicamente para assegurar mais cedo o cartão para a época seguinte e evitar o sufoco de 2017 e 2018.
No que se refere ao ranking mundial, o 40.º lugar no evento australiano não lhe deu quaisquer pontos, pelo que esta semana perdeu 2 posições para 410.º. Ainda assim, melhor do que a 423.ª posição com que iniciou esta época de 2019.
O Australian PGA Championship, de um milhão de euros em prémios monetários, é um torneio modesto no European Tour mas é um dos mais importantes do PGA Tour of Australasia.
Daí que tenha sido tão emotivo para um jogador da casa, o australiano Cameron Smith, ter-se tornado no primeiro bicampeão (2018 e 2019) desde o seu compatriota Robert Allenby em 2001.
Cameron Smith, de 25 anos, totalizou 272 pancadas, 16 abaixo do Par, após voltas de 70, 65, 67 e 70, bateu por 2 ‘shots’ o seu compatriota Marc Leishman (68+68+69+69) e arrecadou 160.668 euros.
E como sublinhou o portal “Golf4You”, o australiano Jake McLeod, graças ao seu 19º lugar (-3), assegurou o fecho da época como o n.º1 da Ordem de Mérito do PGA Tour of Australasia e garantiu automaticamente o acesso ao European Tour de 2019.
Por Hugo Ribeiro
Lisboa, 4 de Dezembro de 2018