Pedro Figueiredo: «Subir ao European Tour foi o maior feito da carreira»
O birdie no buraco 18 do Al Hamra Golf Club, na última volta da Ras Al Khaimah Challenge Tour Grand Final, poderá ter valido a Pedro Figueiredo mais de 100 mil euros.
Oficialmente o português melhor classificado no ranking mundial (319.º, uma subida de 16 lugares após a prova nos Emirados Árabes Unidos) embolsou 8.060 euros pelo 13.º lugar empatado no torneio que distribuiu um total de 420 mil euros em prémios pecuniários.
No entanto, aquele birdie valeu sobretudo a ascensão ao 15.º lugar definitivo da Corrida para Ras Al Khaimah de 2018, garantindo ao n.º1 português a última vaga de ascensão do Challenge Tour de 2018 para o European Tour de 2019.
Façamos então um cálculo fácil. Este ano Pedro Figueiredo jogou 22 torneios do Challenge Tour e embolsou 94.340 euros.
Sabe-se como esta segunda divisão europeia é deficitária para a maioria dos jogadores e foi o caso do atleta do Sport Lisboa e Benfica que, no entanto, contou com vários apoios para superar essa limitação, designadamente da Quinta do Peru Golf & Country Club, Navigator, Orizonte Lisbon Golf, The Strength Clinic, Srixon Europe e Comité Olímpico de Portugal, via Federação Portuguesa de Golfe.
“Figgy” já não está à vontade em termos de patrocínios como quando passou a profissional em 2013, quando o financiamento da sua carreira não era um problema, mas, apesar de tudo, a sua situação é mais folgada do que, por exemplo, a de Filipe Lima em 2018.
Em contrapartida, esta subida ao European Tour irá colocá-lo na elite europeia, onde os prémios pecuniários são substancialmente mais avultados. Ricardo Melo Gouveia amealhou 334.539 euros em 29 torneios em 2018, 332.029 euros em 26 competições em 2017 e 709.971 euros em 26 eventos em 2016.
Este ano, cada um dos jogadores do top-150 da Corrida para o Dubai somou sempre mais de 200 mil euros. Mesmo descontando os impostos elevados e as despesas consideráveis com as equipas técnicas, viagens, alojamentos e alimentação, são valores muito mais significativos. Daí afirmarmos, em jeito de estimativa, que aquele birdie irá seguramente valer a Pedro Figueiredo mais de 100 mil euros.
Mas para o jogador de Azeitão toda esta conversa de euros é bem menos importante do que ter concretizado, aos 27 anos, um sonho de criança.
Em 2001, quando ele ainda contava 9 anos, a dias de completar 10, entrevistei pela primeira vez Pedro Figueiredo. Tinha acabado de ganhar pela segunda vez seguida o Campeonato Nacional de Infantis. Lembro-me de dizer-me que queria ser n.º1 mundial e jogar no European Tour.
Uma década depois, de abalada para a Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), onde viria a licenciar-se em Economia e a cotar-se como um dos melhores jogadores no circuito universitário de golfe, perguntei-lhe se o sonho não seria agora o PGA Tour, o circuito profissional norte-americano. Respondeu-me que é óbvio que os melhores do Mundo querem jogar no PGA Tour, mas que ele iria acarinhar sempre o European Tour.
Imagine-se, então, o que significa para ele concretizar finalmente esse sonho? Seguramente muito mais do que deixou transparecer na forma fleumática que o caracteriza, quando se limitou a brandir o punho e a sorrir timidamente depois do tal putt que lhe deu o birdie no 18 e o apuramento para o European Tour.
«É sem dúvida o maior feito da minha carreira profissional. É lógico que a vitória na Bélgica (KPMG Trophy, em junho) foi também um grande momento e ajudou muito a proporcionar este segundo grande momento, mas sem dúvida que isto é o atingir de um objetivo que sempre tive de chegar ao European Tour», disse Pedro Figueiredo à Tee Times Golf, em exclusivo para Record, dias depois desse feito.
Uma proeza que não sendo inédita é rara. Depois de ter sido um dos melhores amadores da Europa, sentiu enormes dificuldades em vingar como profissional. Chegou a necessitar de um período sabático em que foi passar férias à América do Sul para se afastar do golfe e a visitar os seus antigos colegas na universidade em Los Angeles para reviver as boas sensações no golfe.
Parecia perdido e terminou 2016 no 1.866.º posto do ranking mundial, mas no final dessa época começaram a ver-se os primeiros sinais de recuperação técnica e anímica. Em 2017 foi competir no Pro Golf Tour, fechou o ano no top-5 da Ordem de Mérito e subiu ao Challenge Tour. Um ano depois, no final de 2018, encerrou a temporada no top-15 da Corrida para Ras Al Khaimah e ascendeu ao European Tour. Poucos conseguem galgar da terceira para a primeira divisão europeia em apenas dois anos!
«Olhando onde estava há dois anos, quando o meu jogo estava muito em baixo e eu próprio estava em baixo, ser capaz de superar esses momentos duros… É um sonho meu jogar no European Tour, algo com que sonho desde que sou muito jovem, e sei que irei também fazer feliz todas as pessoas à minha volta, que me apoiaram, designadamente a minha família, a minha equipa», disse ao ‘press officer’ do Challenge Tour, a pedido do Gabinete de Imprensa da PGA de Portugal.
Um alívio depois do sufoco que foi a incerteza vivida no último dia da Grande Final do Challenge Tour. O campeão nacional de 2013 andou a semana toda fora dos apurados para o European Tour, com classificações modestas: Era o 20.º classificado após o primeiro dia, 18.º no segundo e 26.º no terceiro.
Sabia-se que o top-20 no torneio iria ser insuficiente para chegar ao top-15 no ranking. Pensava-se que um top-15 no torneio poderia não chegar e só um top-10 seria seguro. O 13.º posto empatado com que terminou no quarto dia bastou, mas com uns sustos pelo meio.
Depois do famoso birdie no buraco 18, totalizou 281 pancadas, 7 abaixo do Par, com voltas de 71, 71, 72 e 67. Algo estranho andar a semana toda fora da casa das 60’s pancadas e depois arrancar uma enorme última volta. Terá decidido arriscar o tudo ou nada no último dia? Não é muito o seu estilo ser super agressivo.
«Não mudei propriamente de estratégia – garante –, talvez a minha atitude fosse um bocadinho diferente porque não tinha nada a perder e talvez isso tenha influenciado a forma de jogar. Joguei melhor no último dia porque fiz mais birdies. Nos outros dias também não tinha feito muitos erros, mas não estava a fazer muitos birdies porque não estava a meter a bola muito perto das bandeiras e também não estava a meter muitos putts».
Mas mesmo com essa boa exibição final foi preciso aguardar nervosamente pela conclusão da prova para saber se iria juntar-se a Ricardo Melo Gouveia no European Tour em 2019.
«Só fiquei mesmo dentro do top-15 do ranking quando acabou o torneio. Foram algumas horas de tensão e de ansiedade depois de ter acabado a última volta, porque precisava que alguns jogadores não ficassem em determinadas posições para que eu conseguisse o apuramento. Tive essa sorte quando o holandês cometeu um erro no 17 que me deu o acesso ao top-15», desabafou à Tee Times Golf.
O benfiquista referiu-se a Daan Huizing que fez 1 duplo-bogey no buraco 17 (o penúltimo). O holandês tinha de terminar o torneio em 2.º isolado para “roubar” a “Figgy” o apuramento para o European Tour, mas com aquele duplo-bogey caiu para a 3.ª posição. A infelicidade de Huizing foi a festa de Figueiredo.
Mas mesmo antes desse momento de nervos, houve outro igual, quando Tom Murray falhou um putt para birdie no buraco 18 (o último) que lhe daria o cartão para o European Tour. Ao falhar a conversão, o inglês caiu para o 16.º lugar no ranking e perdeu o tão desejado apuramento por ficar a apenas 604 euros do 15.º posto de Figueiredo. Para que se tenha uma noção do irrisório que é esse valor, é o equivalente ao que embolsou o 62.º classificado deste ano no Open de Portugal @ Morgado Golf Resort!
«Muitas coisas teriam de acontecer para eu poder terminar no top-15 do ranking. Estive dentro e fora neste último dia várias vezes, e no final, de alguma forma, esgueirei-me lá para dentro. Foi uma montanha russa de emoções durante duas horas, mas, felizmente acabou da melhor maneira», disse, aliviado.
Aquele providencial putt para birdie no último buraco alterou também radicalmente os seus planos. Em vez de pensar na Final da Escola de Qualificação do European Tour, de 10 a 15 de novembro, em Espanha (onde estarão Filipe Lima, Tiago Cruz e João Carlota), vai já iniciar o calendário de 2019 do European Tour no Open de Hong Kong, de 22 a 25, onde atuará ao lado do amigo Ricardo Melo Gouveia. Neste momento, “Figgy” é o último com entrada direta na China.
«Vou ter de tomar uma decisão em relação ao Campeonato Nacional PGA Solverde, porque vou para Hong Kong no dia 18. O torneio começa a 22 e não sei se conseguirei jogar o Nacional, que se joga em Espinho de 15 a 17. Talvez seja muito apertado em termos de calendário. Mas ainda não tomei uma decisão», explicou.
«Vou começar já o European Tour de 2019 em Hong Kong e penso que jogarei quatro semanas seguidas em Hong Kong, Maurícias e África do Sul. Só depois, sim, terei algumas semanas de descanso para preparar o resto da época já em 2019», concluiu.
Por Hugo Ribeiro
Foto: Getty Images