Miguel Franco de Sousa: «O Golfe está parado? Está, mas não para todos»
Artigo de opinião do presidente da Federação Portuguesa de Golfe
“O tempo que vivemos está envolto numa enorme estranheza, pois de um dia para o outro tivemos de mudar todos os nossos hábitos de vida. As nossas rotinas diárias, a forma como comunicávamos uns com os outros, a forma como nos sociabilizávamos, como passávamos os tempos livres, como olhávamos para o futuro, enfim… poderia estar aqui horas a escrever acerca da forma como o Coronavírus nos mudou desde que bateu à nossa porta e entrou sem autorização.
O golfe não é excepção. Dezenas de milhares de jogadores de golfe portugueses estão a contar os dias para poderem voltar a pisar os relvados.
Quem não sente a saudade da viagem de carro para o campo a ver as primeiras horas do dia – ainda muito adormecido para a maioria da população – com aquele nervoso miudinho e na expectativa de hoje ser o dia daquela volta de sonho que teima em não aparecer?
Quem não sente a falta de ouvir o chilrar dos pássaros quando saímos do carro com o saco às costas e a sentir aquele ar puro a entrar nos pulmões?
Quem não sente falta do café com os amigos a fazer os prognósticos para a volta e a definir as “apostas”?
Quem não sente falta daquelas borboletas no estomago no tee do 1?
Quem não sente falta daquelas quatro horas e meia de jogo – deveriam ser muito menos – a libertar-nos do stress da semana a cada shot que damos?
Quem não sente falta daquela bebida depois do jogo a recapitular cada shot que demos, cada oportunidade falhada e a dizer que se não fosse o buraco 4, 12 e 15 o resultado até nem tinha sido mau de todo, mas ainda assim lá passamos uma nota de 10 aos nossos adversários?
Já temos tantas saudades e ainda só se passaram dois fins de semana em que a maioria de nós não jogou.
Mas, enquanto que para os praticantes o golfe permanece no nosso imaginário, ou, na melhor das hipóteses, vamos praticando em casa graças à nossa enorme capacidade de inovação para matar o vicio, por outro lado temos umas largas centenas de profissionais que continuam a trabalhar nos campos de golfe dos nossos clubes para que tudo esteja preparado para o já tão aguardado regresso.
Pois é. Pode ser que muitos não saibam, mas a área media ocupada por uma instalação de golfe é de cerca de 54 hectares, dos quais 38,4 são de relva mantida. Mas há mais, pois um campo tem cerca de 0,9 hectares em edifícios, 2,5 hectares em lagos ou regueiras, 10,5 hectares de áreas naturais e 0,97 hectares de estacionamento.
Todas estas áreas têm de ser mantidas quer haja jogadores no campo ou não. Não se pode deixar o campo ao abandono enquanto passamos por esta pandemia da Covid-19 e para isso os proprietários dos campos, que podem ser privados ou de clubes de golfe, têm de assegurar a regular manutenção do campo e das suas instalações de apoio.
Excluindo os campos que operam fundamentalmente com o mercado estrangeiro, um campo de golfe emprega à volta de 15 colaboradores, dos quais cerca de 6 a 8 poderão ser indispensáveis à manutenção mínima das instalações, nomeadamente num período no qual não se joga golfe.
A manutenção anual de uma instalação de um clube com 18 buracos ronda os 750.000 Euros e por muito que se possam reduzir alguns custos relacionados com a limitação de jogo no campo esse valor não se reduz na proporcionalidade.
Os clubes de golfe são como famílias, das quais também fazem parte os seus colaboradores, sendo que estes nunca serão dispensados de ânimo leve, mesmo com a profundidade de uma crise como aquela que se avizinha.
Para nós, jogadores de golfe, é fundamental apoiar os clubes com instalações para que eles possam continuar a cuidar, com o mesmo amor e carinho, aqueles relvados que tantas alegrias (e frustrações) nos dão em cada vez que jogamos.
Estes clubes estão a passar por enormes dificuldades e tudo estão a fazer para que o nosso regresso ao golfe seja um regresso de alegria, em campos bem cuidados e com todo o pessoal com um sorriso na cara a saudar o nosso retorno.
Hoje, mais do que nunca, os clubes com campo e/ou campos de treino precisam dos seus sócios sob pena dos mesmos poderem vir a fechar portas, seja aos seus sócios, seja a demais clientes.
Apoiem os vossos clubes. Mas agora. Antes que seja tarde demais.”
in Jornal Record
Autor: Miguel Franco de Sousa, presidente da Federação Portuguesa de Golfe
Lisboa, 26 de março de 2020