Lima aposta na Escola e não defende Nacional – A boa forma do 6.º lugar em Ras Al Kahimah mostra que European Tour ainda é hipótese
Depois do seu positivo 6.º lugar na Grande Final do Challenge Tour de Ras Al Khaimah, que terminou neste Sábado, Filipe Lima ainda não decidiu, mas é muito provável que opte por jogar a Final da Escola de Qualificação, para tentar juntar-se a Ricardo Melo Gouveia e a Pedro Figueiredo no European Tour de 2019.
Todos os jogadores que entraram na Grande Final do Challenge Tour de Ras Al Khaimah apuraram-se diretamente para a Final da Escola de Qualificação, que irá decorrer de 10 a 15 de novembro, no Luminé Golf Club, em Tarragona.
Claro que para Pedro Figueiredo não faz sentido. Ao encerrar 2018 no 15.º lugar da Corrida para Ras Al Khaimah (o ranking do Challenge Tour), garantiu a última vaga para o European Tour com a Categoria-14.
Ora os jogadores que terminarem a Final da Escola de Qualificação do European Tour no top-25 irão ficar com a Categoria-17, portanto, pior.
Para “Figgy” jogar em Espanha é uma perda de tempo, mas para Lima faz sentido, dado que, neste momento, dispõe apenas da Categoria-18 para o European Tour de 2019, ou seja, ficará de fora da maior parte dos torneios da primeira divisão e terá de jogar maioritariamente na segunda.
No fundo, Lima enfrenta um cenário semelhante ao de 2018, no qual disputou cinco torneios do European Tour e 19 do Challenge Tour, um esforço desgastante do ponto de vista físico, mas também emocional.
«A época foi difícil e estou um bocadinho cansado porque joguei também bastante no European Tour e não só no Challenge Tour», declarou o campeão nacional à Tee Times Golf, em exclusivo para Record.
Recorde-se, por exemplo, que quando veio jogar o Open de Portugal@Morgado Golf Resort, em maio, onde se sagrou vice-campeão, Lima tinha entrada nessa mesma semana num torneio do European Tour em Itália. Nem sempre é fácil tomar as melhores decisões quando se tem a fraca Categoria-18.
«Ainda não sei se irei jogar a Final da Escola, mas acho que irei. Haverá sempre a hipótese de agarrar uma categoria melhor do que aquela que já tenho para o European Tour. É verdade que poderei jogar alguns torneios para o ano, mas é por isso que acho que vou à Escola. Também porque estou a sentir-me a jogar bem, com a cabeça no sítio», acrescentou o português de 36 anos que terminou a época no 26.º posto da Corrida para Ras Al Khaimah.
Lima precisaria de ter fechado o top-15 – como fez Figueiredo – para garantir a presença no European Tour, mas, para isso, sabia que teria de ter-se sagrado, pelo menos, vice-campeão isolado na Grande Final do Challenge Tour de Ras Al Khaimah.
Nada de impossível, pois já tinha sido 2.º classificado em 2016 num torneio do Challenge Tour realizado naquele mesmo campo do Al Hamra Golf Club. E durante a semana provou isso mesmo, pois chegou a liderar durante alguns buracos o torneio que reuniu nos Emirados Árabes Unidos o top-45 do Challenge Tour, distribuindo 420 mil euros em prémios monetários.
Havia, contudo, alguma apreensão duas semanas antes do torneio, porque Lima não estava em forma e vinha de dois torneios fracos na China, mas uma semana de treinos intensivos em França deu resultado. Em Ras Al Kahimah jogou bem, sobretudo no jogo comprido, e foi 6.º classificado (empatado), com 278 pancadas, 10 abaixo do Par, após voltas de 70, 66, 71 e 71.
«O balanço é bom. Há duas semanas não estava com boas sensações e jogar assim dá sempre prazer e orgulho. Pude tentar a minha sorte até ao final e esse era o objetivo da semana, era ter a oportunidade de fazer alguma coisa e entrar nos 15. Não aconteceu porque falhei muitos putts curtos», considerou.
«Esta última volta do torneio teve duas fases. Nos primeiros nove buracos estava a jogar bem mas falhei muitos putts. A cabeça acalmou-se depois um bocadinho, fiz bons shots muito bons nos buracos 11 e no 14, nos quais a bola ficou dada para birdie e para eagle. Foi uma volta positiva, nunca é fácil jogar nesta posição, mas um 6.º lugar é sempre positivo», acrescentou.
Claro que uma coisa é o torneio e outra é o ranking e aí há sentimentos ambivalentes. Por um lado, sente-se a jogar bem, por outro sabe que “morreu afogado na praia” e não é fácil “engolir”, sobretudo para um jogador que já por quatro vezes na sua carreira subiu ao European Tour via Challenge Tour.
«O moral está um bocadinho em baixo porque não acabei nos 15. Este ano também joguei sem patrocínios. Financeiramente a coisa está um pouco difícil mas já estou habituado, vou continuar a lutar. Vamos lá a ver como irá correr o ano que vem e se não correr bem, acho que vou fazer outro trabalho», desabafou.
Não é a primeira vez que Filipe Lima pensa em pendurar de vez os tacos. Em 2016, quando conseguiu pela quarta vez subir ao European Tour, ao fechar essa época no top-15 do Challenge Tour, confessou então ao Gabinete de Imprensa da PGA de Portugal que tinha rezado muito porque se não fosse bem-sucedido naquele último torneio em Omã, seria provavelmente forçado a abandonar a carreira de jogador de alta competição.
A questão da falta de patrocínios é importante. Repare-se que em 2017 Lima jogou uma época inteira no European Tour. É certo que não conseguiu manter-se nesse escalão, mas em termos financeiros sempre arrecadou 218.626 euros em prémios monetários oficiais. Claro que depois é preciso contar com a valente “talhada” que os desportistas pagam em impostos, mas deu perfeitamente para suportar os custos de uma temporada que podem ascender a 120 mil ou 150 mil euros.
Já este ano, a jogar maioritariamente no Challenge Tour, o seu total de ganhos pecuniários oficiais ficou-se pelos 77.125 euros. Teve portanto prejuízo e o apoio que está a receber do Comité Olímpico de Portugal, via Federação Portuguesa de Golfe, de dez mil euros até ao final do ano, tem sido fundamental para pagar algumas despesas de deslocação a torneios.
Se Filipe Lima sempre decidir ir à Final da Escola de Qualificação não deverá defender o seu título de campeão nacional.
O Campeonato Nacional PGA Solverde decorre de 15 a 18 de novembro, no Oporto Golf Club e a Final da Escola do European Tour é de 10 a 15. A única hipótese remota seria o português residente em França não passar o cut dos 72 buracos em Espanha, encerrar a sua participação na Escola no dia 13 e viajar imediatamente de Tarragona para Espinho para poder começar a jogar logo a 15, sem fazer volta de treino.
«Este ano? O Campeonato Nacional? Não sei se vou jogar. Depende da Escola», disse, com sinceridade.
Em contrapartida, se for bem-sucedido na Escola de Qualificação já sabe que irá iniciar a sua época de 2019 a 29 de novembro, no Open das Maurícias. Isto porque muito provavelmente não terá entrada no Open de Hong Kong, de 22 a 25 de novembro. Neste torneio chinês que inaugura o European Tour de 2019 só Ricardo Melo Gouveia tem entrada garantida. Mesmo Pedro Figueiredo está ainda alguns lugares fora da lista de inscritos.
Por Hugo Ribeiro
Foto: Getty Imagens