Leonor Bessa explica lições da Escola
Leonor Bessa viveu uma experiência difícil na Final da Escola de Qualificação do Ladies European Tour (LET), em Marrocos. Não conseguiu subir à primeira divisão do golfe profissional europeu e irá estrear-se em 2019 como membro efetiva do Access Series (LETAS), a segunda divisão.
«Foi uma aprendizagem espetacular. Não gosto de perder nem de falhar e, por isso, para o ano estarei cá outra vez, mais competente e mais forte, para vencer esta etapa» disse à Tee Times Golf, em exclusivo para Record, depois de regressar a Portugal.
A jogar apenas o seu segundo torneio como profissional, depois de no primeiro ter-se estreado com a conquista do título do Solverde Campeonato Nacional PGA, Leonor Bessa não passou o cut para a última volta e terminou a Final da Escola no 108.º lugar, empatada com a francesa Marion Duvernay, entre 115 participantes.
A Final da Lalla Aicha Tour School – o nome oficial desta competição, em honra da princesa marroquina – decorreu durante cinco voltas aos campos de Marraquexe Amelkis Golf Club e PalmGolf Marrakesh Ourika, tendo-se concluído nesta quinta-feira, com a vitória da inglesa Bronte Law, autora do resultado recorde de 26 pancadas abaixo do Par.
Foi a primeira vez que Leonor Bessa jogou nestes campos e foi encontrá-los em bom estado: «Ambos eram largos, descampados, com greens em condições excelentes, bastante duros e rápidos. Os bunkers eram difíceis, com uma areia a que não estou habituada, e o tempo esteve espetacular, com calor todos os dias, exceto de manhã cedo».
Não foi por isso, pelas condições de jogo, que a jogadora do Club de Golf de Miramar ficou muito longe das 26 pancadas abaixo do Par da campeã, e igualmente distante das 68 jogadoras que ultrapassaram o cut aos 72 buracos, fixado em 5 acima do Par.
A portuguesa de apenas 20 anos totalizou 306 pancadas, 18 acima do Par, após voltas de 83, 73, 73 e 77. Aquela primeira volta terrível, no PalmGolf Marrakesh Ourika, condicionou todo o resto do torneio.
«A primeira volta foi uma carta fora do baralho. Completamente! Não estava nada à espera, porque sentia-me muito preparada para o torneio e de um dia para o outro, provavelmente aliada à ansiedade e a algum azar, pareceu que o (meu) golfe tinha desaparecido. São coisas estranhas que acontecem neste desporto, mas temos de aceitá-las, apesar de ser muito frustrante, porque a competição é só uma amostra de todo o processo em que um atleta está envolvido, e todo o trabalho e esforço diário saem do nosso corpo e custa-nos mesmo muito», lamentou-se.
Aquelas 83 pancadas deixaram-na no 114.º e penúltimo lugar e foi um resultado inesperado, até porque na pré-qualificação, também em Marrocos mas noutro campo, um mês antes, tinha sido 5.ª classificada. E não era um momento fácil por ser a primeira vez que Leonor Bessa, então bicampeã nacional amadora, tentou a sua sorte na Escola de Qualificação.
No entanto, embora jovem, a estudante universitária de jornalismo sabia, antes de regressar a Marrocos, que a Final seria bem mais difícil, como contou ao Gabinete de Imprensa da PGA de Portugal depois de sagrar-se campeã nacional: «O desgaste de uma Final da Escola de Qualificação é enorme. É muita pressão, são muitos dias seguidos».
Para os media portugueses especializados em golfe, temia-se que aquelas 83 pancadas no primeiro dia lhe dessem pouca margem de manobra para os dias seguintes, mas para Leonor Bessa ainda valia a pena apostar na recuperação: «Mesmo assim não deixei de acreditar que era possível, porque estava ao meu alcance fazer 2 pancadas abaixo do Par por dia e assim passaria o cut».
Essa resiliência merece ser elogiada e é verdade que os resultados melhoraram, com 73 (+1) nos dois dias seguintes, com destaque para a terceira volta, de novo no PalmGolf Marrakesh Ourika, na qual foi capaz de cortar 10 pancadas em relação à jornada inaugural.
Essa melhoria de resultados teve, contudo, poucos reflexos na classificação geral. Aos 36 buracos tinha subido ao 112.º lugar e aos 54 ascendera apenas à 105.ª posição. Foi para a quarta volta provavelmente sabendo que estava virtualmente afastada.
«O primeiro dia foi atípico. Quero guardá-lo pelos ensinamentos que retirei, mas esquecê-lo pelo sofrimento que me causou. Nos restantes dias tentei sempre jogar abaixo do Par, com muito melhor golfe e foi pena, porque quase aconteceu. Tive alguns deslizes porque a confiança, depois do primeiro dia, não voltou a 100%», admitiu a campeã nacional.
Ao não transitar para o derradeiro dia de prova ficou sem hipóteses de sonhar com a entrada em eventos do Ladies European Tour (LET) em 2019.
Repare-se que no ano passado Susana Ribeiro jogou a Final da Escola e até passou o cut, mas ao fechar a prova no 48.º lugar verificou que a Categoria 9b não dá praticamente para nada e em 2018 só conseguiu jogar o Open de Espanha devido a um convite.
Ora Leonor Bessa nem a Categoria 9b obteve, pelo ficará com estatuto para participar nos torneios do LETAS, o escalão secundário. Porém, não irá focar-se apenas na segunda divisão europeia: «Ainda vou organizar e planear a época, mas andarei pelo LETAS e pelo Santander Golf Tour, em Espanha».
Sempre muito ativa, o seu ano de 2019 adivinha-se repleto, dado estar a frequentar 4 disciplinas da licenciatura em Jornalismo, a competir no LETAS, no Santander Golf Tour e no PGA Portugal Tour, e ainda a desempenhar o cargo de treinadora assistente.
«Já estou como treinadora há um ano no Club de Golf de Miramar, a ajudar o Nelson e o Sérgio (os irmãos Ribeiro, profissionais do clube). Está a ser uma experiência fantástica e claro que acabo por ganhar algum dinheiro, não é muito mas dou-lhe muito valor e sem dúvida que tem-me ajudado», afirmou durante o Campeonato Nacional.
Esses rendimentos poderão ser importantes para financiar a sua alta competição, pois o LETAS é um circuito caro e a portuguesa ainda não tem patrocínios para além do apoio da Nike (Norgolfe): «O meu financiamento, para já, continua a ser “paitrocionio” e “mãetrocinio”. Espero em breve conseguir alguma ajuda».
A família Bessa não é endinheirada, longe disso, e para além de Leonor também o seu irmão Tomás enveredou pelo profissionalismo e irá jogar algumas provas internacionais em 2019. A gestão familiar será complicada, mas, felizmente, há uma amizade forte que os une nas dificuldades.
Situação bem diferente vive a vencedora da Final da Escola do LET, Bronte Law, uma inglesa residente nos Estados Unidos, que promete vir competir com regularidade à Europa para apoiar o circuito europeu.
A jogadora de 23 anos não tem, felizmente para ela, dificuldades financeiras e pode concentrar-se unicamente em jogar, fazendo-o ao mais alto nível. Com voltas de 70, 71, 62, 64 e 67, estabeleceu um novo recorde na prova de -26, mas, mesmo assim, só bateu por 1 pancada a sueca Linnea Ström
É com esse nível de golfe que Leonor Bessa sonha um dia, com a consciência de que o trajeto está minado de obstáculos como a areia desconhecida com que deparou nos bunkers marroquinos.
Mas apesar deste desaire, sabe que foi apenas o seu segundo torneio como profissional. Há muita carreira pela frente e o ano de 2018 trouxe-lhe também muitas alegrias, como o bicampeonato nacional amador, o campeonato nacional de profissionais, a perda significativa de peso, a aquisição de rotinas mais rigorosas e a “construção” de um corpo mais atlético.«Acho que ano após ano aprendo mais, torno-me melhor atleta e jogadora. E, principalmente, percebo que isto é uma caminhada muito longa, que é necessário ser forte e estar preparada para todas as situações, porque os momentos maus podem acontecer. Foi (um ano) positivo porque tomei decisões importantes. A minha atitude também se alterou muito e para melhor. A vontade de melhorar está lá em cima», prometeu, antes de entregar-se à quadra natalícia.
Por Hugo Ribeiro
Lisboa, 20 de dezembro de 2018