‘Figgy’ fecha 2018 com vitória e derrota
Pedro Figueiredo concluiu agora a mais longa época da sua carreira profissional, que começou logo em janeiro e só terminou em dezembro.
Doze meses sem parar, uma estafa que cobrou com juros no seu derradeiro torneio, o Alfred Dunhill Championship, na África do Sul, onde não só não passou o cut como registou um dos seus piores resultados do ano, de 13 acima do Par em apenas dois dias! Mesmo assim, saiu de lá com um troféu nos braços…
Foi um ano que valeu a pena e do qual nunca se esquecerá. Em janeiro era o 708.º classificado no ranking mundial, mas durante esta época chegou a ocupar o 276.º posto, tornando-se pela primeira vez no n.º1 do golfe nacional.
No ranking desta semana tombou para 369.º e cedeu esse estatuto de n.º1 português para Filipe Lima, dado o jogador residente em França surgir desde esta segunda-feira no 360.º posto, mas para “Figgy” o ranking mundial importa apenas para ilustrar um 2018 em que concretizou um sonho de criança – entrar no European Tour por direito próprio.
De janeiro a abril jogou seis “swings” do Portugal Pro Golf Tour, um circuito satélite que poderemos simplificar dizendo que é uma quarta divisão europeia. Os resultados não estavam a ser famosos, com apenas dois top-10, mas depois veio aquele triunfo no 1.º Royal Obidos Classic, em abril, que deu-lhe asas.
Em maio fez o seu primeiro grande resultado no Challenge Tour, a segunda divisão europeia, com um 8.º lugar no Open de Portugal @ Morgado Golf Resort, e em junho atingiu um dos picos mais elevados da sua carreira, um primeiro título no Challenge Tour, no KPMG Trophy, na Bélgica que mereceu mesmo uma menção honrosa do Presidente da República.
O final da temporada no Challenge Tour foi um sufoco e precisou de um milagroso birdie no último buraco do último torneio, a Grande Final, para terminar esse torneio de Ras Al Khaimah no 13.º lugar, que lhe deu o 15.º e último passaporte de acesso ao European Tour de 2019. Disse então em exclusivo a Record tratar-se do maior feito da sua carreira.
Sem tempo para respirar, recuperou de uma infeção respiratória contraída na viagem dos Emirados Árabes Unidos para Portugal e três semanas depois já estava a estrear-se como membro efetivo do European Tour, a primeira divisão europeia, no Open das Maurícias, para depois viajar à África do Sul para os dois últimos eventos de um ano de loucos em emoções e viagens intercontinentais.
Nas Maurícias e em Joanesburgo ainda passou o cut e jogou um golfe bastante aceitável, com um 23.º e um 48.º lugares, respetivamente, mas em Malelane, na quinta e sexta-feira passadas, caiu-lhe tudo em cima e despediu-se com um 148.º posto (empatado).
No seu habitual registo ponderado e algo fleumático, “Figgy” limitou-se a dizer à Tee Times Golf, em exclusivo para Record: «Foi pena que o jogo não continuasse afinado para o torneio, mas talvez o cansaço não o tenha permitido. Agora vai fazer-me bem um período de descanso em Portugal para preparar o resto da época».
No Alfred Dunhill Championship, de 1,5 milhões de euros em prémios monetários, a contar simultaneamente para o European Tour e o Sunshine Tour, o atleta do Sport Lisboa e Benfica totalizou 157 pancadas, 13 acima do Par do famoso Leopard Creek Country Club. Duas voltas negativas de 78 e 79, nas quais ainda fez 7 birdies, mas sofreu 7 bogeys e, sobretudo, 5 duplos-bogey e 1 triplo-bogey!
O relato sincero de Pedro Figueiredo sobre o que se passou é, de certa forma, pungente de ler, pois percebe-se a luta inglória em que se envolveu durante dois dias contra o seu jogo e a saturação da época. Deixemo-lo narrar sem interrupções:
«Foram dois dias bastante difíceis porque a bola não estava simplesmente a ir para onde eu queria. Estava a falhar sobretudo os ferros – que costumam ser o meu ponto forte –, mas estava a falhá-los à esquerda. Neste campo os greens são muito exigentes, estavam muito duros, são muito ondulados e se falharmos os greens torna-se complicado.
«Ainda assim, no primeiro dia, os primeiros nove buracos não me correram muito mal, mas depois deixei muitas pancadas nos segundos nove. Comecei do buraco 10 nesse dia. Fiz 1 bogey a 3 putts no 3; depois no 4, estava no meio do fairway e faço 1 duplo-bogey, porque falho o green do lado errado, depois não consegui meter o chip no green e ainda foi preciso chip e 2 putts para o duplo; no 8 faço o chip e 4 putts, o que não é muito normal; para terminar com uma primeira volta de 6 acima do Par.
«No segundo dia a bola continuou a não ir para onde eu queria, desde o aquecimento no driving range, mas ainda assim ia com 1 pancada abaixo do Par ao cabo de 10 buracos, com um agregado de 5 acima do Par, e como tinha ainda três buracos de Par-5 para jogar e tinha a parte mais acessível do campo ainda pela frente, estava com esperanças de conseguir fazer 3 birdies e passar o cut.
«Mas no buraco 11, onde até cheguei ao green em 2 pancadas, estava a “patar” para birdie a cerca de 8 ou 9 metros e de repente vi-me a “chipar” a 50 metros da bandeira! Naquele putt a bola passou o buraco, apanhou uma lomba e foi parar a 50 metros fora do green. Fiz 1 duplo-bogey nesse buraco e acho que aí a “bateria” foi abaixo. Já sabia que não iria conseguir passar o cut. Mesmo dando o máximo até ao fim, penso que a concentração e a energia já não estavam lá».
As estatísticas mostram que a análise do jogador da Navigator está correta, dado que a sua precisão de saídas ficou-se pelos 46,3% (35,71% na segunda volta), enquanto os greens em regulação não superaram os 50% (38,89% na segunda volta).
O mais curioso é que não são números muito diferentes dos do vencedor do torneio, David Lipsky, que só atingiu 36% fairways e 49% de greens em regulação. Como se explica então que o norte-americana de origem asiática tenha conseguido disparar 274 pancadas, 14 abaixo do Par, com voltas de 70, 66, 70 e 68, para embolsar 237.750 euros pelo seu segundo título de carreira no European Tour?
Simplesmente porque David Lipsky mostrou-se um autêntico mago no jogo curto, exatamente o que traiu “Figgy”.
«O meu jogo curto esteve realmente inspirado esta semana. Costuma ser um dos meus pontos fortes, mas desta vez superou tudo o que era possível», riu-se em jeito de comentário o campeão, no passado Domingo, depois de saber que iria subir no ranking mundial de 340.º para 190.º, passando a ser também o novo n.º1 na Corrida para o Dubai.
As estatísticas mostram que Lipsky foi o jogador que menos pancadas perdeu no campo, apenas 2 duplos-bogeys e 4 bogeys, e ainda converteu 18 birdies e 2 eagles. O mais espantoso é que em 46 dos 72 buracos que jogou, Lipsky necessitou de 1 único putt para meter a bola no buraco!
Para a história da participação portuguesa no Alfred Dunhill Championship de 2018 ficará apenas que Pedro Figueiredo falhou o cut, que no ranking mundial desceu de 358.º para 369.º; que na Corrida para o Dubai tombou de 53.º para 74.º; num torneio em que Stephen Ferreira e António Rosado nem passaram do qualifying, com Ferreira a descer na Ordem de Mérito do Sunshine Tour de 71.º para 79.º. Já agora diga-se que, por não ter jogado na África do Sul, Ricardo Melo Gouveia cedeu algumas posições e é agora o 59.º na Corrida para o Dubai.
No entanto, nem tudo foi negativo nesta passagem de Pedro Figueiredo pelo Alfred Dunhill Championship e embora não se tenha falado disso em Portugal, o jogador de 27 anos venceu um dos dois torneios de Par-3 que antecederam o evento principal.
«Foi muito bom ter conseguido ganhar esse torneio de Par-3, porque quase todos os (156) jogadores competiram nesse torneio. Eu fiz o melhor resultado, de 6 abaixo do Par, num campo muito divertido, porque cada buraco é uma imitação dos buracos de Par-3 mais famosos do Mundo, como são os casos do 17 de Sawgrass, o 6 e o 12 do Augusta National, o 8 de Royal Troon, entre outros. É um campo espetacular e eu, felizmente, estava com os ferros bem apurados. Pena que depois isso não se tenha verificado no torneio principal. Mas foi uma vitória divertida», disse “Figgy”, que teve de elevar um troféu «de 5 ou 6 quilos».
«Felizmente eles vão mandar-me para casa uma réplica do troféu (uma estatueta em metal de um leopardo), porque se tivesse que trazer aquilo comigo teria de pagar um bom excesso de bagagem», concluiu humoradamente. Um presente de Natal antecipado e merecido.
Por Hugo Ribeiro