“Figgy” é o segundo português a passar a Escola em 29 anos
Pedro Figueiredo tornou-se apenas no segundo jogador português a apurar-se para o European Tour através da Escola de Qualificação.E se Daniel Silva venceu essa prova em 1990, num dos maiores feitos da história do golfe nacional, “Figgy” terminou no 18.º lugar, num total de 28 jogadores que garantiram a presença no European Tour em 2020, entre os 156 que estiveram no Lumine Golf & Beach Resort, em Tarragona, em Espanha.
Daniel Silva viria a vencer depois um torneio do European Tour, mas aquele triunfo na Escola foi sempre, para ele, um dos pontos mais altos, senão o mais alto da sua carreira.
Pedro Figueiredo, por seu lado, percebe a importância de ter conseguido manter-se no European Tour em 2020, depois de na sua época de estreia – a de 2019 – ter terminado no 177.º posto da Corrida para o Dubai, portanto, longe do top-115 que lhe teria garantido a renovação do cartão de membro da primeira divisão europeia.
“Foi uma época de altos e baixos, não foi de todo a época que queria, o que dá ainda mais sabor a esta qualificação através da Escola, porque sabia que vinha de um ano difícil e que o meu jogo não esteve ao melhor nível durante quase todo o ano. Ter superado este último desafio foi muito saboroso”.
Com efeito, o atleta do Sport Lisboa e Benfica jogou 29 torneios do European Tour em 2019 e a melhor classificação que teve foi logo no primeiro evento, ainda em dezembro de 2018, com um 23.º lugar no Open das Maurícias, com 8 abaixo do Par, que foi também o seu melhor resultado da temporada.
Aliás, em 29 torneios, só terminou abaixo do Par em 10 e só passou o cut em 12. Fechou a época com 93.775,77 euros em prémios monetários e 156 pontos para o ranking. Só para ter-se uma ideia, o top-115 de apuramento imediato fixou-se em 298. 882,27 euros do indiano Gaganjeet Bhullar, com 446,7 pontos.
Numa declaração interessante à agência Lusa, Pedro Figueiredo admitiu que poderá ter acusado alguma inexperiência por ser o seu ano de estreia, aos 27 anos: “Do Challenge Tour para o European Tour, a maior diferença que senti foi no tipo de campos em que jogámos. Tentei, de certa forma, adaptar o meu jogo a esses campos em vez de jogar o meu jogo normal, aquele em que tenho mais confiança. Tentei, digamos, quase “inventar” um bocadinho e ir por caminhos nos quais, se calhar, não me sentia tão confortável a nível de jogo e de estratégia”.
Depois de uma carreira amadora brilhante, o início do seu percurso profissional começou logo com a conquista do Campeonato Nacional em 2013, mas depois passou por períodos de dúvidas e incertezas. No entanto, em 2017 conseguiu com brilhantismo terminar no top-5 do Pro Golf Tour, uma das terceiras divisões europeias, e em 2018 logrou igualmente fechar a época no top-15 do Challenge Tour, a segunda divisão europeia, para entrar pela primeira vez no European Tour em 2019.
Três anos no sentido crescente, que pareciam agora em perigo, dado ter sido forçado a jogar o tudo ou nada na Escola de Qualificação. Mas aí, no ‘mata-mata’ como dizia Scolari, veio ao de cima uma das suas características dos tempos de amador – a força mental e também alguma sorte.
“Na Segunda Fase tive de ir a um play-off para não ser eliminado, portanto, estive muito perto de nem sequer passar essa Segunda Fase”, recordou uma vez mais à Tee Times Golf. Era preciso ficar no top-20 e acabou em 19.º ao ganhar uma ‘morte-súbita’ entre cinco jogadores, também em Espanha, mas em Alicante.
Já na Final da Escola, em Tarragona, o profissional da Navigator andou sempre dentro do top-25 de apuramento para o European Tour, com voltas de 68 (-3) ao Lakes Course, 70 (-2) e 69 (3) ao Hills Course, e 71 (Par) de novo no Lakes. Nesse período chegou a andar no 2.º lugar do torneio e houve um dia em que terminou em 5.º. Passou à vontade o cut fixado para o top-70 após quatro dias.
Foi então que tudo ficou em perigo com uma quinta volta de 71 (Par) ao Lakes Course que atirou-o para fora desse top-25, ao contrário de Filipe Lima, o outro português em prova, que andara sempre a correr atrás do resultado e estava finalmente num top-20 provisório com rondas de 71, 68, 72, 70 e 66.
Mas o sangue frio do jogador de Azeitão veio então ao de cima. Fez uma das suas melhores voltas da temporada, de 66 (-5) ao Lakes Course, sem sofrer qualquer bogey, para concluir as seis voltas com um agregado de 415 pancadas, 13 abaixo do Par, o mesmo resultado do 17.º classificado. Mas como na Escola há sistema de desempate, a “Figgy” calhou-lhe o 18.º lugar definitivo.
Pelo contrário, Filipe Lima teve uma derradeira volta de pesadelo, em 75 (+4), tombando 37 posições para o 61.º lugar final, com 422 (-6). Terá de competir de novo no Challenge Tour em 2020.
“Neste torneio tentei olhar o menos possível para o leaderboard. Sendo uma maratona de seis dias, achei que se fosse fazendo o meu jogo, buraco a buraco, dia a dia, no final iria estar entre os 25 primeiros. Após cinco voltas não sabia se estava no top-25, e isso fez com que a minha atitude não mudasse de dia para dia. Estava ali para fazer o melhor resultado possível e no final esperar que fosse suficiente para ficar entre os 25 primeiros. No último dia não estava certo de quantas pancadas necessitava de fazer. Foi uma estratégia que ajudou-me bastante, porque em vez de pensar no resultado, estive a pensar no que tinha de fazer para somar menor número possível de pancadas”, disse o jogador do Quinta do Peru Golf & Country Club.
“Figgy” parece especializar-se em momentos de ‘mata-mata’, como nos tempos amador em que era fortíssimo em ‘match-play’. Antes do início da última volta, o European Tour publicou nas redes sociais uma foto do português com uma frase que proferira um ano antes, quando também se apurou à queima para o European Tour, com um putt gigantesco no último buraco da Grande Final do Challenge Tour: “É incrível como tudo se resume ao último putt”.
Essa experiência mágica, quase religiosa, de um último putt impossível, no último buraco, do último torneio da época em 2018, foi-lhe fundamental para repetir a proeza em 2019 e protagonizar uma fantástica subida de 16 posições no último dia da Escola, passando de uma situação de provisoriamente eliminado para outra de definitivamente apurado.
“No ano passado, no Challenge Tour, na última volta do último dia, também fiz 5 abaixo do Par para apurar-me para o European Tour. Acho que essa volta ajudou-me bastante este ano. Vi que já tinha estado numa situação muito parecida, que tinha conseguido uma grande volta, pelo que, nada me dizia de que não seria capaz de fazê-lo outra vez. Fui com essa atitude para o último dia, confiante de que estava tudo em aberto e de que, apesar de dois dias menos conseguidos nas quarta e quinta voltas, poderia ter uma última volta bastante positiva que me desse o apuramento”, contou.
Essa crença alicerçou-se também na noção de que estava a jogar bem: “Senti o meu jogo muito consistente durante os seis dias, sobretudo do tee ao green. Acertei muitos fairways e muitos greens. Só no quarto e no quinto dia estive menos bem nos greens, com vários greens a 3 putts e a conseguir meter poucos putts para birdie. Em termos de jogo comprido joguei todos os dias de forma muito parecida. Andei todos os dias a fazer 15 ou 16 greens o que é muito bom. E numa prova como a Escola de Qualificação, de seis voltas, a consistência é muito importante e saio muito satisfeito por tê-lo conseguido”.
Esta capacidade de não olhar para o resultado, analisar o jogo que estava a fazer e acreditar sempre que era possível, foi um cocktail perfeito para superar o frio, o vento e, sobretudo uma adversidade da qual praticamente ninguém falou – o torneio jogou-se quatro voltas num campo difícil para “Figgy” e apenas duas voltas no percurso que lhe era mais favorável.
“Os dois campos são bastante diferentes. O campo onde jogámos quatro voltas (Lakes) é bastante largo, com greens grandes, sem grande defesa, daí haver resultados mais baixos. Em teoria, não é um campo que se adapte da melhor forma ao meu tipo de jogo, porque prefiro campos onde seja preciso pensar bem no que fazer e na estratégia a usar. Ora neste campo basta bater bem na bola e ser comprido ajuda. Já o outro campo (Hills) identifica-se a 100% com o meu nível e estilo de jogo. É mais curto, mais estreito, com greens mais pequenos, onde não é preciso usar muito o drive, e o importante é manter a bola no sítio certo. É mais estratégico e nesse campo, apesar de os resultados não serem tão bons, para mim acabou por ser um campo mais fácil”.
É por todos estes obstáculos ultrapassados que Pedro Figueiredo, recordando o seu percursor de 1990, afirma sentir-se particularmente “orgulhoso” do feito alcançado em Tarragona, embora não considere ser uma das suas maiores proezas numa carreira ainda curta.
“Concordo com o Daniel Silva quando diz que a Escola de Qualificação é uma prova duríssima, um grande teste a nível mental, emocional e físico. Fico muito orgulhoso, mas, ao mesmo tempo, sinto que já tive resultados e já tive torneios nos quais o meu jogo esteve, se calhar, a um nível mais alto. Fui 18.º em 156 jogadores, uma classificação bastante positiva, para mais quando o objetivo era o top-25, mas recordo-me de torneios em que joguei melhor, como a vitória no Challenge Tour (KPMG Trophy em 2018), alguns torneios no Challenge Tour do ano passado e uma ou outra vitória ainda como amador (sobretudo o British Boys, um ‘Major’ amador)”.
No seu press release, o European Tour recorda que a Escola de Qualificação de 2019 decorreu em 252 buracos, ao longo de três fases distintas, em 14 campos diferentes, atraindo um recorde de 1.063 jogadores. Foi este o teste superado pelos 28 apurados, entre os quais, “Figgy” em 18.º, entre mais de mil candidatos!
Será agora tempo de descansar? Nem por isso. O European Tour de 2020 já está aí às portas.
A 28 deste mês começa o Alfred Dunhill Championship, na África do Sul, com 1,5 milhões de euros em prémios monetários. Stephen Ferreira está garantido por ser membro do Sunshine Tour, o circuito sul-africano. Ricardo Santos também está dentro com a Categoria 14 por ter terminado como 10.º no ranking do Challenge Tour de 2019. Pedro Figueiredo acedeu igualmente com a Categoria 17 da Escola. E até Filipe Lima é para já o último apurado com a Categoria 18 por ter sido o 20.º no ranking do Challenge Tour de 2019.
Depois, a 5 de dezembro joga-se o Open das Maurícias, onde, até ao momento, só Ricardo Santos está garantido. E o ano termina com o Australian PGA Championship, a 19 de dezembro, que ainda não tem lista de inscritos.
“Planeio jogar o que puder. A Categoria-17 da Escola de Qualificação não irá permitir-me jogar em todos os torneios do ano, sobretudo aqueles que têm prémios monetários mais elevados, como, por exemplo, os Rolex Series. Por isso, acho importante jogar aqueles em que entrar. Há três até ao Natal e não sei se entro em todos, mas se entrar irei jogá-los todos. Até porque a meio do ano de 2020 há uma reorganização da categoria da Escola de Qualificação que tem 28 jogadores e seremos ordenados consoante os resultados efetuados até ao meio da época. Portanto é importante ter um início de época forte para subir no interior dessa categoria e na segunda metade da época ter mais hipóteses de entrar em mais torneios”, concluiu à Tee Times Golf o antigo jogador da universidade californiana UCLA.
Nas redes sociais, Pedro Figueiredo ainda considerou esta “uma segunda oportunidade”. E à Lusa assegurou: “Sinto-me mais preparado. Sei melhor aquilo que tenho de fazer. Estou confiante num ano melhor do que o primeiro”.
Em ano olímpico, “Figgy” necessitará mesmo de excelentes resultados para poder estar em Tóquio e igualar as presenças de Ricardo Melo Gouveia e Filipe Lima no Rio2016.
Foto; Getty Images
Autor: Hugo Ribeiro/Tee Times Golf
Lisboa, 25 de novembro de 2019